Tá parecendo que eles passeiam, mas nem respiram.
Não estão vendo nada a seu redor, não curtem a paisagem, nem o verde. Não sabem que esse cheiro é do mar quando bate o vento no rosto.
Não escutam o estrondo das ondas.
Parecem estátuas. Vão só pela inércia, em uma bolha, no seu mundinho virtual.
Vão e  voltam, não olham nada.
Vão e voltam, mas nem o policial que vem por trás eles percebem. Este  gerdame  que morre de tédio e calor.
Está quente e úmido, mas eles não estão nem aí.
Passam na minha frente, mas não me vêem.
Então, sou transparente.
Eles, os caminhantes, nem sabem de mim.
Não sabem que eu vou partir e perder esse cheiro, esse visual.
Eles nem sabem que está aí, tão pertinho deles. Por trás dessa telinha onde moram. 
(Karina Sechi Serboff) 
Mas isso aí é foto velha!
Não faz mal.
Ontem a saudade chamou a minha porta.
Quando o Facebook bota uma lembrança na sua cabeça não tem jeito né?
A Lucrecia que  escolheu ela. Nossa, como é bonita esta mulher. Saudade do seu cabelo vermelho, da sua paciência e sorriso.
Em 2013, ela queria essa imagem para exposição em Veneza.
Fiz a fotografia em 2011, quando ainda estava no Brasil fazendo umas provas de zooming em Jericoacoara...
Putz que lugar! Voltei lá três vezes e voltaria mais mil, mas...
A saudade pegou!
(Karina Sechi Serboff) ​​​​​​​
Pera aí!  A mulher está vindo!
Qual mulher sua doida?
Essa senhora de cabelo como a neve, ela leva a máscara no pescoço.
Mas você está sonhando! Levanta milha filha!
Só estou lembrando, a preguiça pode comigo hoje, não consigo sair da cama.
(Karina Sechi Serboff) 

Tem um peixinho morto ai. Deve estar cheio de plástico tadinho.
Outro dia estava cheio de águas-vivas mortas, mas elas são  uma praga né?
A maré está muito baixa ainda nesta praia e as ondas só são boas quando ela está alta. 
Temos que esperar, vamos nadar um pouco?
Vamos sim, mas me explica que fico muito perdida. Nossa! É muito complicado, tem praia que funciona com a maré alta, outra com a baixa e até na meia, não é?
Como assim? E que aplicativo fala disso? Como é que você sabe?
Então, você vai aprendendo com o tempo, tem que decorar mesmo.
Putz, que chato... Então vamos nadar  um pouquinho.
Vamos aproveitar os turistas... Pedimos ao avô para cuidar das nossas coisas.
(Karina Sechi Serboff) ​​​​​​​
Esta é a janela da entrada.
Dá para vê-la da portinha do jardim que dá para rua.
Será isso então que eu conseguirei ver depois quando for embora. Já já!
De fora dá para ver com os reflexos da frente. Mas as minhas conchas não estarão mais lá...

Atrás dela está a escada, a que sobe para o terraço onde as cores inundam tudo. Onde meu quarto me arrulha sob o balanço das ondas, o suave e estrondoso barulho do mar.

A escada dos anjos que cuidam de mim. Um deles dá beijinhos.
Ainda estão aí. Não tive coragem de tirá-los do seu cantinho.
O que vou explicar para eles quando me perguntarem?

A vida  as vezes fica ao revés e agora tudo está de cabeça para baixo.
( Karina Sechi Serboff ) 

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